OS dias por aqui têm sido sempre de frio e nasce com uma cor cinza escondendo um sol que não vejo faz tempo. O céu cor de chumbo dá uma sensação de se está em uma terra estranha. E estou.
A chuva cai durante a noite e olho pela janela do quarto e o que vejo são flores espalhadas pelo jardim com a beleza das gotas de orvalho a enfeitá-las. Essas gotas me mostram o quão frágil é o ser humano.Mas também me fazem relembrar que ser imigrante é não saber, ao certo, o chão que se pisa, o falar que não é nosso, a língua que não conhecemos bem. Os trejeitos de um povo que não é nosso. O abrir de portas que não nos é familiar.
Viver no exterior é vir a ser uma foto nos álbuns da família que deixamos para trás. Mas é,também, aprender a conviver com uma saudade evidente de uma terra que nos viu nascer, crescer e florescer. Podemos ter fingido que os laços familiares foram rompidos. No entanto,uma vez sabendo que alguém está com problemas, sentimos saudades e o coração dói, sangra. Outro problema é querer fingir que assumimos a bandeira da nova Pátria. E eu assumo que meu coração é dividido.E isso ficou claro nas OLimpíadas de Pequim. sofri pelas derrotas dos atletas suecos(Stefan Holm ficou em quarto lugar e Mustafa Mohamed perdeu a medalha nos últimos 200 metros). Mas chorar ao ver um Diego Hipólito pedindo desculpas ao país por ter caído, uma Cristiane chorando por ter perdido a medalha de ouro para as americanas, o Jessé de LIma na final do High Jump - uma surpresa para mim -, os argentinos derrotando o futebol masculino, são sinais claros dentro em mim de que sofro por um país que não dá grandes condições ao seu povo. Este país está tão enraizado num coração vermelho cujas cores são verde - de uma floresta amazônica devastada e amarelo - dos campos de flores suecas e de um sol que quero mesmo que nasça diriamente e se transforme num laranja, ou cores de arco-íris forte.
Já ultrapassei, creio, a fase da abstinência dos remédios. Foram duas semanas infernais. Onde contei apenas com o marido e amigos blogueiros.Mudei de casa, retomei novo tratamento, voltei a estudar - creio que serão 8 horas por dia -e nos últimas semanas tenho investido na fotografia. Participado de concursos e vencido um no FLICKR. Me deu forças para seguir em frente.Mas ainda não me deu certeza de que aqui é o meu lugar. A foto abaixo foi escolhida como a melhor da SEMANA NO PLATINUMPHOTO um dos grupos mais concorridos no FLICKR, onde além desta, eu tive também outra. Ambas ficaram como primeiro e segundo lugar(no link acima,elas são as de número 11 e 13). A 11 também ficou entre as melhores da semana num jornal sueco, em dezembro de 2007 e que só vim saber em julho.
É MUITO DIFÍCIL SE DESFAZER DAS RAÍZES BRASILEIRAS. ELAS SÃO FORTES DENTRO DE MIM. E por mais que eu saiba ter nascido num Estado onde a violência galopa sem parar, a corrupção permeia os 4 cantos do país, ter deixado lá um pai que foi ausente na minha vida, e que sou para ele, a mãe que ele não tem(funções trocadas mas que não me dão amargura, pois bastou saber ele está doente me fez sofrer), foi lá que vi o sol nascer pela primeira vez. Fingir isso será o mesmo que morrer um pouco a cada dia. Ser brasileiro é ser diferente. É ter as emoções expostas, ausência de medo de ser quem sou. Pena que a saudade é entremeada pela certeza de que não vislumbro grandes mudanças para um povo sangue-bom.
P.S..: Não tenho visitado ninguém por que não temos wireless, ainda. Usamos a temporária do escritório do Leif. Ele traz o cabo para casa no final do expediente.
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