A VIDA e a arte da superação

05 augusti 2008
A cidade acordou fria, cinzenta e com ventania de um inverno que está longe de vir. Depois de dias sem fim com uma temperatura que variou de 20 a 35,eis que o dia amanheceu com 12 graus Celsius. O frio, na verdade, me dá a calmaria que o ar quente e seco do verão não consegue me "tocar". Venho descobrindo que a vida é mais do que sofrer. Se você dá muito valor à dor, esta nunca vai te abandonar. Colará em seu corpo e alma de tal forma que fará uma parceria , simbiose sem fim.



Você não terá tempo de ver a beleza de uma flor que se abre, de um céu azul que te faz pensar em dias melhores. Por que na verdade não há uma dor que nunca acabe e feridas que nunca se fechem. Tudo é um ciclo. Basta cada um viver de uma maneira que se encontre um ar mais puro. Mesmo que num mundo cheio de histórias mal contadas e fábulas que nem crianças acreditam.

Eu nunca tive ídolo. No entanto, se algum dia admirei alguém a tão ponto de amá-lo de forma incondicional foi meu irmão mais velho. Exemplo de fortaleza, dignidade e que exerceu em mim o papel de Pai que o verdadeiro nunca conseguiu. Admiro pessoas. Adoraria ter tido um dedinho de prosa com Ayrton Senna e sua simplicidade e superação. O Gabriel Garcia Márquez, escritor, é outro que eu gostaria de ouvir dele como conseguiu tamanha inspiração para dar vida ao livro " Memórias de Minhas Putas Tristes".

Recentemente, eu cheguei a pensar que um ídolo não tem de prestar conta de sua vida privada.Hoje creio que ele tem sim. Como formador de opinião, influenciará inúmeras pessoas com seus atos e gestos. De forma positiva ou negativa qual rumo dê à sua vida.

Há coisas que apenas quem vive sabe explicar. E por mais que tentemos encontrar respostas, não as achamos. Sei disso. Vivi dias em total abstinência que hoje já não existe. Fase vencida e superada. Sábado passado foi feito aposta de que eu não conseguiria ficar uma hora em pé para ver aquele que eu admiro e o único(junto com o somaliano naturalizado sueco), até hoje, que me fazem parar diante da tv sueca para torcer por suas vitórias. Eles me fizeram sair de casa e ficar debaixo de uma sobrinha com o marido(em pé).

Final de semana que passou aconteceu o Campeonato Sueco de Esportes, em algumas modalidades. E ELE estaria aqui. Simples, HIGH JUMPER, casado e pai de um menino, tem como treinador o pai que trabalha como serralheiro. Em qualquer lugar que ele vá, tem um sorriso no rosto. Não bebe, não fuma, nunca se envolveu em intrigas e quando compete, antes caminha em direção ao público para reconhecer os seus fãs e pede que se batam palmas de incentivos aos demais atletas. Em direção à trave, ele pega as duas mãos, põe atrás da cabeça, fecha os olhos e corre em busca de superar seus limites. Ele é número UM na Suécia e foi OURO nas Olimpíadas de Athenas em 2004, embarcou dois dias atrás para Pequim.


STEFAN HOLM E SEU JEITO SIMPLES DE SER.

Ao terminar a prova, onde ele não conseguiu atingir a marca de 2,38m ,me aproximei do pai dele que estava na arquibancada e pedi para tirar uma foto dele. O pai gritou "Stefan...vem ver quem torce por você". Ele veio em minha direção, apertou minhas mãos e disse: "surpreso estou de ter fã brasileira já que o high jump não é tão famoso por lá." E quando eu falei que torcia tanto por ele e que pedia a Deus que o protegesse, ele levantou as mãos aos céus e disse: " Deus, Obrigada! " Logo em seguida foi perguntado a ele qual o limite que ele queria chegar e ele simplesmente disse: " chegar ao 17o dia em Beijing". Caso ele seja OURO, vai abandonar a carreira. Aquele momento para mim teve o sabor da frase de Martin Luther King:

"É melhor tentar e falhar que preocupar-se e ver a vida passar. É melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se fazendo nada até o final. Eu prefiro na chuva caminhar que em dias tristes me esconder. Prefiro ser feliz embora louco, que em conformidade viver."

Foi um momento mágico que vivi. O que me tocou foi o sorriso doce, jeito carinhoso, amável ao posar para mim. Choveu copiosamente e Leif segurava a sombrinha. No entanto, meia hora para a competição acabar, deu-se uma trégua e mesmo com o céu cinzento eu captei essa foto dee acima, além de outras mais. Ao voltar para casa, dei de cara com um jardim lindo de flores com cara de bouquet de noivas. Belo sinal para quem, como eu, vem sentindo como Charles Chaplin um dia escreveu,



Não faça de seus problemas um cavalo de batalha. Perdão peço pela minha sinceridade: ESTOU REAPRENDENDO A VIVER. CHEGA DE TANTA TRAGÉDIA. JÁ BASTA O MUNDO SE ESFACELANDO AO NOSSO REDOR. SARNAS PARA ME COÇAR?ESTOU FORA!DOENÇA?QUERO FALAR NISSO, NÃO. SINTO APENAS QUE A CURA VEM QUANDO ESTAMOS PREPARADOS PARA RECEBÊ-LA COMO UMA DÁDIVA QUE DEUS NOS PRESENTEIA. NUNCA ESTIVE TÃO BEM NA MINHA VIDA.




O outro é Mustafa Mohamed e a vida difícil do ATLETA que teve desde a infância. Ele nasceu em Mogadishu, a Capital da Somália e teve a sorte de mudar para a Suécia,aos 11 anos de idade. Hoje, naturalizado sueco, representa o país na modalidade dos 3000mts com obstáculos(ele é o número UM no país, na modalidade em que compete) e


MUSTAFA É O DA FRENTE. VENCEU A PROVA MAS COMEÇOU EM SEGUNDO .
Advinhem onde ele mora? na Costa Oeste da Suécia, numa cidadezinha costeira de apenas 7.500 habitantes, onde estivemos no último final de semana.Menos um a sofrer no inferno africano chamado Somália. Falar com ele, impossível. Ele começava e terminava a prova do outro lado do estádio. Consegui fotografá-lo, ao passar diante de mim 3x e o que vi foi milhares de suecos gritando o nome dele. Se Mustafa conseguiu vencer tantos desafios na vida e chegar aonde está p0r quê eu, você, nós não podemos? Os desafios existem para se superar.



LYSEKIL, ONDE VIVE MUSTAFA. E FOI GRAVADA PARTE DA NOVELA DO POST ANTERIOR.