E que venha o futuro...

14 juli 2008


Depois de dias sem fim e nuvens que passavam de chumbo a cinza claro eis que o dia amanheceu com uma claridade inesquecível. O sol veio bem cedo e eu, de câmera nas mãos, decidi fotografar a Praia de Ponta Verde, pela última vez. Eu queria guardar para a posteridade os últimos momentos diante daquela que foi meu refúgio por meses sem fim.
Entramos no carro em direção a Recife e foi ficando para trás noites de amargura, sonhos inacabados e um passado de melancolia. Não quis despedidas. Eu quis apenas SUMIR. De onde nasci, cresci e me viu SER. Os amigos ficaram para trás. E talvez ainda nem saibam que eu cheguei - aos trancos e barrancos e movida a um medo de voar - ao país que largara 3 anos atrás.


A Suécia me recebeu com céu azul de um verão friento. A paisagem do mar brasileiro deu lugar a campos de flores amarelas cujas plantas se transformam em óleo e margarina. E foi assim que me senti protegida, sem medo de sair às ruas. Mais uma vez este país voltou a ser meu lar. Do Brasil, trouxe apenas a certeza de que lá fui gerada, criei raízes que me foram arrancadas por uma violência que galopa sem parar, por uma sociedade doente e movida - na maioria das vezes - a uma falta de ética sem fim. Mas hoje, a ficha caiu: SINTO UM VAZIO SEM FIM. EU SOU, NOVAMENTE, UMA IMIGRANTE. Ou uma refugiada?


Eu sei que na vida, nem tudo são flores e para onde eu vá sempre surgirão dificuldades a vencer. Mas talvez, seja aqui o lugar em que eu vou poder ser eu mesma sem precisar me corromper, me rasgar ao meio e fingir que os fins justificam os meios.



Eu espero, no mínimo, ter o direito de viver a PAZ TÃO DESEJADA. Encontrar a cura para a ANOREXIA NERVOSA QUE ME CORRÓI. Poder centrar meus pensamentos em sonhos e planos de noites um pouco mais tranquilas. A família ficou para trás faz tempo. Já nem me lembro mais que um dia a ela pertenci. Breve, eu serei mesmo um retrato roto nos álbuns de alguns deles. Ou talvez seja lembrada como aquela que tansgrediu, venceu barreiras e teve a coragem de dizer: TENHO VERGONHA DE TER NASCIDO ENTRE VOCÊS. VERGONHA DE SER UM DE VOCÊS. Ou talvez nem seja lembrada. Seja esquecida como os muitos refugiados que deixam tudo para trás em busca de um lugar melhor para se viver.



Como disse Pablo Neruda

"Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto, quem não muda as marcas no supermercado, não arrisca vestir uma cor nova, não conversa com quem não conhece. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos. Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da Chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não tentando um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples acto de respirar. Estejamos vivos, então!"



É para frente que se anda. Mesmo que o anoitecer seja doloroso, o amanhã virá. E com ele a certeza de que tivemos a coragem de OUSAR!Viver é ir além de...É caminhar em direção a dias melhores. Mesmo que tenhamos , antes, que lamber nossas próprias feridas diante de um sol que ainda não abriu.



Mas OUSE de forma positiva. Sem machucar ninguém. Só faltava agora ter blogueiro com BLOG CENSURADO. Por atos de pura covardia. Tanta coisa a fazer para um mundo melhor e ainda tem gente que perde tempo em vigiar a vida alheia. Eu, hein!LUMA:NÃO SEJA FRACA COMO EU QUE ME DEIXEI LEVAR PELA PRIMEIRA PAULADA E DELETEI TUDO. SÓ DESISTA DE BLOGAR SE VOCÊ QUISER, pois tens o direito de escrever o que pensa . Tem dias em que acordo com a sensação de que estamos todos caminhando para um abismo sem fim...e um buraco vai se abrir e quando nos der conta, estaremos todos soterrados...sem chances de defesa...Mortos-vivos ou vivos-mortos?


All Fotos by Grace Olsson.